O Segredo da Felicidade é a Liberdade, o Segredo da Liberdade é a Coragem. Nilton Bonder

_________________________________________________________________________________________________________________________________


Rose Villanova
contato: rosevillanova@gmail.com



CLICK TO TRANSLATE

Perto do mundo, longe de si


Rubem Alves escreveu uma crônica inspiradíssima sobre esta obra de Vermeer. Ele diz que o mapa na parede, foi deixado por seu marido marinheiro, para que ela ao receber uma carta sua, pudesse localizá-lo naquele mapa. Ele, ao escrever, sabia exatamente onde encontrá-la em seu pensamento, porém ela ao receber sua carta deveria localizar no mapa o lugar de onde ele escrevia e assim poderia percorrer com seus dedos aquele mapa, como se acariciasse seu corpo e senti-lo mais próximo de si.
Pensando em como agora tudo está tão modificado, fiquei a imaginar uma esposa grávida, nos dias de hoje com seu marido distante e toda a tecnologia disponível para a comunicação.
Embora hoje, as distancias percorridas sejam tão maiores do que naqueles idos de 1664, estamos muito mais próximos dos que viajam. Só não temos seus corpos para acariciar mas sabemos exatamente onde estão e o que querem nos dizer de si, de seus pensamentos e emoções. Isto é melhor ou pior? Estamos mais felizes? Mais sensíveis? Amamos mais e melhor? Creio que esta seja a grande questão de nosso tempo.
Vivemos num mundo pequeno, não há fronteiras nem limites de acesso, porém ele está, o mundo, de ponta cabeça! Os valores são tão diversos que ficamos perdidos num emaranhado de possibilidades, angustiados com tanto poder, um poder sem limites que fere as relações. Tudo podemos, nada queremos. Ficamos em um experimentar sem fim e ao final um tremendo vazio de insatisfação.
Hoje com o mundo a nossos pés, conversas on-line com qualquer parte do mundo, não estamos livres da dor da incompletude. Por isso pintei este quadro, o ontem e o hoje: Ontem com todas as dificuldades de comunicação e a solidão da distancia, o hoje com todas as facilidades de comunicação e o vazio da solidão de nós mesmos.
Rubem Alves fala muito sobre os mapas; fala do mapa do mundo, do mapa do céu e do mapa de nós mesmos, diz ele: “Feliz a nossa linguagem em que a palavra carta tem duplo sentido. Enquanto não chegasse a carta ela poderia se consolar com a carta. Quando a separação acontece , os espaços entre os amantes se tornam mapas. O pintor Wesley Duke Lee, faz alguns anos, fez um trabalho a que deu o nome de Cartografia Anímica: a alma é um mapa. Gostei da idéia. E imaginei que os primeiros mapas devem ter sido instrumentos de amor: sinais numa casca de árvore indicando o lugar do encontro. Até hoje é assim: só que usamos endereços e números de telefone no lugar de sinais numa casca de árvore. Os mapas na sua condição mais profunda, são os desenhos que fazemos sobre o espaço vazio para tornar a separação menos dolorosa. Quando minha mãe morreu, meu irmão me contou que ele lidava com a sua ausência imaginando-a caminhando pelos espaços siderais. As pessoas têm estrelas que não são as mesmas. Para alguns, as estrelas são guias. Para outros, elas não passam de pequenas luzes. Para os sábios, elas são problemas a serem resolvidos.”


Este texto que Rubem Alves escreveu em 1995, me inspirou a fazer a minha “Mulher lendo”. Uma mulher, nos dias de hoje com a tecnologia a seu dispor e, astróloga que sou, me foi impossível não lembrar de que o instrumento do astrólogo para conhecer o território anímico (como pintou W. Duke Lee) chama-se também mapa, ou carta.
O mapa ou carta do céu - o mapa astral - mostra os signos e planetas que funcionam dentro de nós, é o instrumento de re-conhecimento da nossa alma, esta coisa tão esquecida e perdida no emaranhado da vida moderna, que nos leva por mundos tão desconhecidos e longínquos.
Esta mulher, cujo coração bate como todos os corações femininos, ao receber noticias do amado distante, está hoje diante de seu notebook, com o mundo ‘de ponta cabeça’, diante do e-mail do seu amado. Hoje, esta mulher está mais próxima do seu homem viajante de mundos mais distantes, porém está distante do seu próprio mundo.
Pela Internet ou no lombo de um burro, difícil chegar ao nosso destino sem sabermos qual o caminho que nos leva ao belo mundo de nós mesmos. Tudo mudou, porém a alma de cada um continua a buscar seu destino, motivo da viajem que começou, quanto neste mundo chegou.
É preciso olhar as estrelas...

Ilustrações:
Mulher lendo uma carta - Vermeer

Mulher lendo - Rose Villanova

3 comentários:

  1. Gostei de mais de sua releitura visual, Rose.

    ResponderExcluir
  2. Anônimo12:25 PM

    Texto profundo do RA e com um esclarecimento cheio de luzes. Gratidão pelo blog. Obrigada Rose.
    Att: Nao sou anônimo...mas não consegui logar a conta.
    vanessa b m omena

    ResponderExcluir
  3. Excelente!! MT interessante 😊😊

    ResponderExcluir